sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

quando Alex Murphy acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se metamorfoseado numa máquina poderosa

Não vou fazer comparações entre o ROBOCOP de 1987 e o de hoje porque não sei nada de cinema. O que me encantou na primeira versão, de 27 anos atrás, é a mesma coisa que  me levou a assistir a versão atual: ver a máquina substituir a carne. É inevitável! É uma tentação que acompanha e sempre acompanhará o homem... 
Mas vejam que no título deste artiguinho citei "A Metamorfose", de Kafka. Bom, temos que concordar que tanto Gregor Samsa quanto Alex Murphy não pediram suas metamorfoses. No entanto, como saber se não sonharam com elas? Nos dois casos a metamorfose é sinal de destruição seguida de reconstrução. 
Gregor estava bem antes de se transformar em inseto? Não, de maneira alguma... porque a  luta entre o desejo de ser forte e a realidade da insatisfação, da impotência, da doença, lhe causava feridas constantes. Era preciso crer numa libertação, era necessário livrar-se daquela blindagem que era seu corpo. Arrancar sua casca e  revelar ao mundo a fragilidade que habitava naquele corpo significava romper finalmente a blindagem e encerrar a dor das feridas... ainda que isso o levasse à morte.
Alex Murphy, o homem transformado em homem-máquina, vive esse o mesmo sonho e o mesmo pesadelo: romper a blindagem carnal que aprisiona o desejo de ser forte, indestrutível, rápido, exato. Ao descobrir-se dotado de poderes supracarnais, Murphy foge do laboratório e só interrompe sua corrida porque é contido por aqueles que controlam seu novo corpo. Quando toma consciência do que lhe ocorreu, ou seja, quando vê no espelho o que sobrou do seu corpo após um atentado, ele pede para morrer. É a visão dos restos carnais que o faz querer morrer. Mas quando recupera o poder da máquina, ele está de volta à vida. Sem dúvida há vida pulsando e comandando aquela armadura. A máquina agora se equipara ao desejo que antes era contido pela limitação do corpo. 
Todo o resto já não importa...