terça-feira, 18 de junho de 2013

imagem emblemática

As manifestações do movimento denominado, por enquanto, de Passe Livre já possuem ao menos uma imagem emblemática (ver abaixo) capaz de conceder aos manifestantes um apoio visual. Contudo, o discurso está fragmentado entre protestos diferentes, correndo o risco até de divergências dentro do próprio movimento. Não há uma linha de frente estabelecida, como houve no movimento "Diretas Já" e no "Fora Collor". Assim, a insatisfação que tem mobilizado a multidão pode facilmente ser reduzida a um arquétipo produzido por oportunistas.
Na foto, manifestantes em Brasília. Autor: Pedro Ladeira da Folhapress, segundo o site da "Veja"

segunda-feira, 17 de junho de 2013

nuvem de poeira

Sim, hoje, uma segunda-feira, dia 17 de junho de 2013, explodem manifestações de populares em várias capitais brasileiras e em Brasília. Tudo começou com protestos contra aumento da tarifa de transporte público e foi crescendo até transbordar, como leite que ferve na chaleira e corre o risco de derramar, se o fogo não for desligado. De repente... internautas das redes sociais começaram a transmitir mensagens típicas dos ideais revolucionários. Sentadinhos, no conforto de uma sala ou de um quarto, protegidos contra chuva e contra o frio, saboreando algum quitute, puseram seus dedinhos para manifestar a favor dos milhares lá fora, no frio, ao relento, sob risco de confronto com a Polícia... Ficou fácil, hoje em dia, fazer política de rua: basta um computador conectado à Rede. Então cada um toma o movimento para aquilo que lhe convém: o protesto contra o Governo Federal, o protesto contra o Governo estadual, o protesto contra a Copa no Brasil, o protesto contra a inflação, o protesto em favor do Ensino e da Saúde, o protesto contra a PEC 37, o protesto contra a impunidade para menores de idade e por aí vai... E como fazer o tal protesto virtual? Fácil: você capta as fotos e vídeos enviados pelos manifestantes de rua e as veicula na sua "página" virtual... Na verdade, você não capta a versão dos manifestantes de rua, não... Você capta as reportagens, as imagens, os discursos, as montagens da Mídia oficial que faz a cobertura da ação dos manifestantes de rua.
Os discursos... Os internautas buscam criar seu próprio discurso e tentam resistir ao discurso das mídias, os grandes veículos de informação. Mas como impor seu discurso? Subjetividades fragmentadas... devido às circunstâncias do acontecimento: um movimento que cresceu de modo não programado...
Bem, estou analisando a coisa com base na ideia de que o movimento nasceu sem projeto político definido. Talvez eu esteja equivocada, talvez o movimento tenha sido rigorosamente calculado. Mas isso não importa agora. O que importa é o real interesse do movimento. Como impor um discurso? Pois é disso que se trata. Como expor a que veio o movimento, sem cair em alguma armadilha que coloque a perder todo brilho máximo: "o Brasil despertou."
Cada manchete dará destaque a uma reivindicação que lhe seja mais conveniente: Pec 37, vandalismo, abuso da polícia, Copa do Mundo... Uma grande nuvem de poeira poderá cobrir "o Brasil despertou"...  

Eu tenho postado neste blog fotos tiradas por mim mesma, mas nesta postagem não tenho nenhuma foto ou filme feito por mim mesma, portanto terei que usar uma imagem (e um discurso) que, a meu ver, expressa minha preocupação com o conflito entre subjetividades: o comentário da âncora de um grande telejornal, que no início das manifestações tentou jogar sua pá de cal sobre a voz das ruas.
  
http://www.youtube.com/watch?v=EXhbymV4U3s

quinta-feira, 13 de junho de 2013

o que era já não é mais?

Nós temos à nossa disposição, hoje, um arsenal de pequenas tecnologias capazes de alterar uma imagem registrada originalmente pela câmera fotográfica ou de filmagem. Com o auxílio de programas de computador, podemos gerar efeitos que a câmera não produziu no ato do registro. Bem, temos então que aprender a olhar as coisas com a consciência de que a imagem apresentada pode não ser rigorosamente aquela que o olho do fotógrafo viu. Parece tudo muito simples, mas esse talvez não seja um aprendizado nada simples. Há uma certa insistência nossa em aceitar a fotografia como a reprodução do real.  
Mas se o real, ao ser registrado por uma câmera e alterado por técnicas digitais, não se configura mais como a versão original, então como pensar o real a partir dessa premissa? O olhar deve, portanto, aprender a admitir que a imagem exposta está sujeita a ser apenas uma possibilidade do real.



sábado, 8 de junho de 2013

"informação é poder"

"informação é poder"
Não sei quem foi que disse uma vez o seguinte: "se informação fosse  poder, as bibliotecárias dominariam o mundo".
Seja lá quem disse a frase, ele não se lembrou que informação é uma coisa e conhecimento é outra. Na biblioteca - normalmente - a gente encontra conhecimento e não apenas informação. A informação é aquilo que nos aborda todos os dias, de manhã à noite, sem pedir licença. O conhecimento se esconde em bibliotecas: esses lugares isolados, estranhos, silenciosos.
Aliás, é possível encontrar o conhecimento nos lugares mais suspeitos que existem, ou mesmo em escolas, bares, ônibus, ou nas grandes universidades.
Já a informação está sempre acessível.
A informação não é poder. Poder é conhecimento. O conhecimento é poder na medida em que o conhecedor não sabe que sabe... Já a informação jamais será poder porque o sujeito bem informado sabe o que todos já sabem... mas sem saber que sabem. Quando o bem informado anuncia seu achado, todos se espantam, mas logo percebem que aquilo já estava para explodir... Mas quando o sábio anuncia seu achado... o mundo se transforma.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

a imagem no tempo

Estamos vivendo um tempo de excessos. O excesso de imagens, sons, informações que nos tomam nos últimos tempos é resultado do desenvolvimento de tecnologias de comunicação e circulação de informação que criamos justamente para conquistarmos mais praticidade, comodidade no que se refere à comunicação e informação. Não imaginávamos que junto com a praticidade e a comodidade viria também a avalanche constante de imagens, sons e informações que nem sempre procuramos. A tecnologias do nosso tempo favorecem esse desejo por facilidade, mas ao mesmo tempo provocam uma fadiga por causa do excesso.
Como processar essa avalanche sem prejudicar a sensibilidade? É difícil. Pois é natural que nos empenhemos em acompanhar o ritmo da circulação da informação para podermos nos localizar e articular com o mundo, com os novos valores, com as novas demandas... É natural que esperemos ser vistos e ouvidos dentro da mesma dinâmica.  O problema é que, não raras vezes, temos que julgar com rapidez e expressar nossa visão sobre aquilo que conhecemos apenas no embalo das mobilizações à nossa volta.
Como permitir que a contemplação, o devaneio, o silêncio possam exercer algum efeito na captação do mundo? Eis o desafio...




    

terça-feira, 4 de junho de 2013

quando a memória nos pega despreparados

Quem já não passou pela seguinte situação?: você está tranquilo, vivendo seu dia, fazendo algo do seu cotidiano, pensando no que virá daí uns minutos, horas... está concentrado em alguma atividade, quando de repente... toca no rádio uma música que você não ouvia há anos. Essa música logo lhe chama a atenção porque ela traz consigo a lembrança de uma cena do passado, ou talvez um rosto, um cenário. Essa música surge como portadora de um sentimento ou, quem sabe, um lampejo de uma emoção vivida naquela época, na época em que a música fez parte das sensações captadas durante aquele estado mental, emocional... aquele estado de existência.
Num lapso muito breve, seu instante presente é tomado por lembranças que nem sempre são claras ou possuem algum sentido claro; nem sequer são lembranças significativas para sua vida. Mas elas estão aí de volta, misturadas com cenas e imagens de um tempo que sequer está muito claro qual é. Os lampejos misturam o som da música à cenas fragmentadas, palavras, rostos, cheiros, climas.
O que nos coloca numa mesma vulnerabilidade é esse "acidente" do acontecimento dentro do tempo. Esse acontecimento pode ser uma música, a estampa de um vestido, o perfume de um bolo.  Ser sutilmente despertado para fora do tempo presente é estar despreparado para o passado, sobretudo um passado ao qual pouco se recorre, um fragmento que passou quase desapercebido. Se agora essa lembrança parece tão insignificante, por que aquele instante no passado não se perdeu por completo? Por que ainda está ali, brincando com a memória?
Há muitos anos não vivo essa experiência, essa surpresa, por isso imagino que na juventude estamos mais propensos a essas armadilhas da mente. Com o tempo vamos aprendendo a nos precaver: reservamos na memória um espaço para aquela recordação, de modo que ela passa a compor um período mais claro como a casa onde se morou em determinada fase da infância, os amigos que fizeram parte de um momento da adolescência e por aí vai.
Ao captar o mundo ao redor, nossos sentidos também estão portando registros de uma percepção, que nos acompanharão sempre.

     

quem nomeia o que é visto por todos

Os olhos que nomeiam as imagens que todos veem são os olhos da coragem e até da imprudência. Ousadia de uns antecede a perplexidade de outros; dinamismo de uns antecede o medo de outros. Quem, ao olhar, dita o visto possui uma prudência diferente... a prudência da visão periférica. Este observador vê, não só o objeto, mas varre o campo ao redor de si, para nomear com segurança. Enquanto isso o olhar convidado a receber a imagem alcança somente a imagem no horizonte, com visão ampliada pela distância imposta pela perplexidade e pelo medo.
Bem vindos ao tempo da política do olhar.