Com a afirmação das redes sociais, em especial o
Facebook, tornou-se comum a convivência virtual com quadrinhos, trazendo fotos
ou desenhos, de toda espécie de mensagem. Aquelas com teor humorístico nos
aproximam muito da linguagem do cartum e da charge. O ataque de anteontem ao jornal francês
“Charlie Hebdo” é uma demonstração do poder que essa linguagem possui. Esse
formato de mensagem convoca o leitor para um riso breve mas com propósitos
críticos, com entonação variada e sujeita a respostas variadas, da indiferença
ao choque.
Humor
é coisa séria. O riso é uma manifestação de confronto com a realidade. Os
gregos antigos dominaram essa arte de fazer rir. Levaram a ridicularização do
ser humano às últimas consequências, concedendo ao riso um espaço nobre na
arte. Definiram assim o que hoje
buscamos, talvez, nos programas televisivos de humor, que no caso Brasil
parecem cada vez mais limitados ao entretenimento, isolando e até contrariando o
propósito de instigar a crítica. Fazer pensar através da sátira, do deboche e
do cômico exige saber lidar com sentimentos graves. Pode-se dizer que o chargista
é o artista do último recurso: quando a mensagem já esgotou suas possibilidades
de fazer efeito na mente dos leitores, a charge entra com seu apelo. Breve e
sorrateira, a charge exibe as ironias do nosso cotidiano sisífico, compra a
ideia de que o humor está ligeiramente ligado à simpatia, ao bom senso.
No entanto, o humor pode agredir.
E essa agressão dá a medida da posição
ou visão do chargista em relação ao tema escolhido. Muito comumente, antes de
passar a mensagem, o tal tema já foi debatido à exaustão, ou é a expressão de
um consenso, ou aquilo que é tomado como consenso. Mas no final, a expectativa
é a de que o leitor aliviará sua seriedade e sorrirá, mesmo sem mexer um
músculo do rosto. Do risinho nervoso à gargalhada, do silêncio ao escândalo e à
perplexidade, o riso é transgressão quando provocado por uma artimanha
premeditada.