Local: Centro Cultural Palace (Rua Alvares Cabral, 322 - Centro - Ribeirão Preto)
Segue aqui uma "Carta ao leitor"... para adiantar do que se trata:
Caro Leitor,
O
que é a relação humana via rede mundial de computadores?
O
que é a Internet: simplesmente produto da tecnologia ou campo específico de
ação?
Na
sua trajetória de desenvolvimento tecnológico, os homens já encurtaram a distância
entre si de diversas formas. Ao longo dos séculos, máquinas e recursos variados
foram criados para transportar, de um lado para outro, na Terra e no espaço
sideral, nossos sons, nossas imagens, nossos dados. Mas talvez nenhum invento
até agora tenha sido mais extasiante do que o ciberespaço *.
O
romance “Fórum Virtual” é resultado desse meu assombro com as propriedades de
tal tecnologia. Ela tem acelerado, digamos assim, o processo de percepção de
alguns aspectos da vida enquanto, ao mesmo tempo, nos leva a negligenciar
outros. Pois é difícil dar conta de tudo!... E o excesso, o descartável, o
provisório, o transitório são partes dessa nova vivência. Mas, ao parar para
examinar um pouco algo que está acontecendo tão próximo (já que agora nenhuma
distância é muito grande), acabamos nos assustando. A ficção que você lerá aqui
tem sua matriz num fato real: a morte precoce de um jovem, um usuário constante
da Internet e representante fiel da geração que nasceu no mundo conectado à
rede. Antes mesmo de pensar em escrever, o fato me levou a explorar a Internet,
seguindo os rastros que o jovem deixara na Rede. Foi nessa viagem que tive
contato com tantos outros anônimos, cujos rostos e vozes nunca me foram
mostrados, pois só me interessavam as ideias, as palavras, a memória de quem, em
alguma circunstância, tivesse cruzado com meu personagem. Quando os primeiros
textos começaram a nascer, eu narrava segundo os moldes tradicionais da prosa,
o que me trouxe um descontentamento, pois já não se tratava mais só de uma história
trágica inspirada na realidade, mas também dos reflexos da minha atividade virtual
durante a pesquisa sobre o personagem. De tal modo que um novo texto surgiu,
celebrando os próprios formatos de texto da internet, como as cartas
eletrônicas e as discussões em fóruns virtuais.
Não
raras vezes a perplexidade que me tomara durante a pesquisa fez-se tão presente
que os diálogos dos personagens buscaram espelho nos diálogos encontrados na
Rede, quanto ao vocabulário dos internautas e quanto à afetividade das falas. E
aqui eu me ponho a pensar no vasto campo de considerações acerca do trabalho do
ficcionista e seu encalço: a Realidade. Que realidade é essa que nos chega
pelos aparelhos, seja um computador de mesa ou um smartphone? Que relação é
essa que estamos estabelecendo com vídeos, fotos, sons, textos, informações,
pessoas?
Para
além da ficção científica, a Literatura busca acompanhar essas tecnologias em
suas abordagens sociais, históricas, e contemplar os discursos ressonantes de
uma época high-tech.