“Meu Pedacinho
de Chão”, novela de Benedito Ruy Barbosa, foi ao ar na Televisão pela primeira vez em 1971. Agora, em 2014, ela
volta com uma leitura nova. O diretor Luiz Fernando Carvalho decidiu ignorar as
fórmulas tradicionais de audiência televisiva e brincar com o público do
horário das seis... O resultado: uma festa de experimentação, visitas
inusitadas pela linguagem do Cinema, intervenções divertidas como a cena
acelerada, presença lúdica dos bichos de
madeira de outros materiais, que o diretor já usara em outras de suas produções
como nas minisséries “Hoje é Dia de Maria” e “A Pedra do Reino”, ambas pela
Globo.
Apesar do colorido do cenário e do figurino, o tema que percorre a história é a política, expressa na sua forma mais simples, com tudo que há de mais natural no costume brasileiro, ou seja, questões que envolvem a ética, o jogo de interesses particulares, o conservadorismo, a chegada dos novos e ameaçadores ventos dos tempos... É uma história sobre o confronto entre o velho, o arcaico, o tradicional com a novidade, a ciência, o conhecimento avançado. Juliana, a professora, chega ao arcaico vilarejo de Santa Fé para alfabetizar; Ferdinando, filho do coronel Epa e portando um herdeiro da visão conservadora, vivera fora para estudar e tornara-se engenheiro agrônomo; volta a sua terra com ideias renovadas, o que o coloca em confronto com o pai. Renato, forasteiro como Juliana, é o médico que encontrará resistência da população em aceitar seus métodos, pois onde não há medicina, todos se acostumam com a crendice e no vilarejo, por muitos anos, o socorro para saúde vem da benzedeira e parteira Mãe Benta.
Apesar do colorido do cenário e do figurino, o tema que percorre a história é a política, expressa na sua forma mais simples, com tudo que há de mais natural no costume brasileiro, ou seja, questões que envolvem a ética, o jogo de interesses particulares, o conservadorismo, a chegada dos novos e ameaçadores ventos dos tempos... É uma história sobre o confronto entre o velho, o arcaico, o tradicional com a novidade, a ciência, o conhecimento avançado. Juliana, a professora, chega ao arcaico vilarejo de Santa Fé para alfabetizar; Ferdinando, filho do coronel Epa e portando um herdeiro da visão conservadora, vivera fora para estudar e tornara-se engenheiro agrônomo; volta a sua terra com ideias renovadas, o que o coloca em confronto com o pai. Renato, forasteiro como Juliana, é o médico que encontrará resistência da população em aceitar seus métodos, pois onde não há medicina, todos se acostumam com a crendice e no vilarejo, por muitos anos, o socorro para saúde vem da benzedeira e parteira Mãe Benta.
Política em
todos os sentidos... eis o tema da novelinha com cara de programa infantil, com
seu excesso de cores, seus bichos de madeira e suas crianças, os espertos
Serelepe e Pituca. Nessa estranha
comunhão da linguagem infantil com a política a novela não poupa o público nem
da referência à violência. Mas faz isso com um equilibrado jogo psicológico: os
personagens belicosos da novela, Gina e Zelão, são também as maiores vítimas da
própria imagem. São vistos como perigosos, inconsequentes, prontos para atirar,
prontos para matar, enraizados numa visão onde a autoridade máxima está no Pai
(no caso de Gina) e no patrão (no caso de Zelão). Mas esses poderes começam a
perder a força à medida que os personagens se deixam enveredar pelas mudanças
trazidas pelo Novo: Ferdinando (no caso de Gina) e Juliana (no caso de Zelão).
Mas o tema em “Meu
Pedacinho de Chão” compete com tantos artifícios que quase não se tem tempo
para torcer para esse ou aquele, mesmo porque os vilões (diferentes de outras
novelas) não oferecem motivos para ódio ou repulsa. Entre tantos artifícios os efeitos, as posições da câmera, a grandiosa poesia das
imagens, oferecem tanto deleite que é fácil assistir por assistir, sem intenção
de se divertir, apenas por ver, deliciar-se com cenas majestosas, como a que
foi ao ar esta semana: Juliana e Zelão na igreja, aguardando a chuva passar
para saírem, depois de os dois terem uma conversa cheia de tensão. Aliás o
texto dos atores mereceria um artigo exclusivo. Mas vamos nos concentrar nas
imagens... câmera colocada na altura da cintura dos atores, focando o rosto,
acabam revelando o teto dos cenários; close up nos rostos dos atores podem
revelar nascentes de lágrimas ou veias faciais como nunca se viu em televisão; cenas distanciadas mostram simultaneamente
vários cenários ao mesmo tempo. Sobre a intervenção das cenas aceleradas já
falei. Tem também aquele efeito, que acredito ser próprio do Cinema, que consiste em fechar horizontalmente
uma cena em algum momento. São muitos os truques; a exposição dos efeitos percorrem
os capítulos, sem aviso prévio. Quando menos se espera, o efeito surge na tela
e nos enche os olhos.
Outro motivo de fascínio está num recurso que volta e meia também aparece: são sequências breves de imagens que fazem referência a um desejo de um personagem, uma imaginação ou um flash back dentro da narrativa, como foi a bela sequência para explicar porque as armas de Zelão estavam descarregadas. Era preciso contar como isso havia acontecido; então usou-se uma rápida volta no tempo, com a voz da Mãe Benta em off, dando ao telespectador a informação de que fora ela quem havia tirado a munição das armas. Sem dúvida, poucas vezes vi em televisão uma imagem tão rápida mas tão bonita quanto essa tal revelação.
Outro motivo de fascínio está num recurso que volta e meia também aparece: são sequências breves de imagens que fazem referência a um desejo de um personagem, uma imaginação ou um flash back dentro da narrativa, como foi a bela sequência para explicar porque as armas de Zelão estavam descarregadas. Era preciso contar como isso havia acontecido; então usou-se uma rápida volta no tempo, com a voz da Mãe Benta em off, dando ao telespectador a informação de que fora ela quem havia tirado a munição das armas. Sem dúvida, poucas vezes vi em televisão uma imagem tão rápida mas tão bonita quanto essa tal revelação.
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