terça-feira, 4 de junho de 2013

quando a memória nos pega despreparados

Quem já não passou pela seguinte situação?: você está tranquilo, vivendo seu dia, fazendo algo do seu cotidiano, pensando no que virá daí uns minutos, horas... está concentrado em alguma atividade, quando de repente... toca no rádio uma música que você não ouvia há anos. Essa música logo lhe chama a atenção porque ela traz consigo a lembrança de uma cena do passado, ou talvez um rosto, um cenário. Essa música surge como portadora de um sentimento ou, quem sabe, um lampejo de uma emoção vivida naquela época, na época em que a música fez parte das sensações captadas durante aquele estado mental, emocional... aquele estado de existência.
Num lapso muito breve, seu instante presente é tomado por lembranças que nem sempre são claras ou possuem algum sentido claro; nem sequer são lembranças significativas para sua vida. Mas elas estão aí de volta, misturadas com cenas e imagens de um tempo que sequer está muito claro qual é. Os lampejos misturam o som da música à cenas fragmentadas, palavras, rostos, cheiros, climas.
O que nos coloca numa mesma vulnerabilidade é esse "acidente" do acontecimento dentro do tempo. Esse acontecimento pode ser uma música, a estampa de um vestido, o perfume de um bolo.  Ser sutilmente despertado para fora do tempo presente é estar despreparado para o passado, sobretudo um passado ao qual pouco se recorre, um fragmento que passou quase desapercebido. Se agora essa lembrança parece tão insignificante, por que aquele instante no passado não se perdeu por completo? Por que ainda está ali, brincando com a memória?
Há muitos anos não vivo essa experiência, essa surpresa, por isso imagino que na juventude estamos mais propensos a essas armadilhas da mente. Com o tempo vamos aprendendo a nos precaver: reservamos na memória um espaço para aquela recordação, de modo que ela passa a compor um período mais claro como a casa onde se morou em determinada fase da infância, os amigos que fizeram parte de um momento da adolescência e por aí vai.
Ao captar o mundo ao redor, nossos sentidos também estão portando registros de uma percepção, que nos acompanharão sempre.

     

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